FAMED trabalha tema diversidade humana a partir das Políticas de Promoção da Equidade em Saúde

Postado por: Eduardo Rafael

Acadêmicos da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) tiveram a oportunidade de entrar em contato direto com as principais necessidades de saúde de populações vulneráveis do município de Campo Grande. Por meio da disciplina optativa “Saúde e Equidade: (re)conhecendo as necessidades e políticas públicas frente às vulnerabilidades”, ofertada pelas professoras Elizete da Rocha Vieira de Barros e Rosimeire Aparecida Manoel Seixas, os alunos puderam trabalhar as relações étnico-raciais, gênero e o a diversidade cultural a partir das  políticas de promoção da equidade em saúde, compreendendo, na prática, a realidade das populações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), negra, cigana, em situação de rua e do campo, florestas e águas.

Fiquei em choque, pensando no que leva a pessoa a viver daquele jeito?”, afirmou um dos estudantes que participou das atividades com a população em situação de rua. “Pude perceber que o trabalho da equipe do consultório na rua é de amparo, redução de danos, apoio psicológico, é uma equipe realista”, complementou outro graduando matriculado na disciplina.

A partir de reflexões acerca do direito à saúde, os acadêmicos aprofundaram o conhecimento sobre os princípios doutrinários do SUS com ênfase na equidade em saúde, relacionando com os conceitos de desigualdade social, preconceito, discriminação, diversidade cultural e etnia e raça, tendo em vista o desenvolvimento de habilidades e competências culturais.

A oferta da disciplina, que ocorreu no primeiro semestre deste ano, vem da necessidade de abordar, na graduação, aspectos da diversidade humana para a atenção integral. Estabelecidas desde 2004 pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução nº 1, de 17 de junho de 2004), as dimensões da diversidade subjetiva, étnico-racial, de gênero, orientação sexual, cultural entre outras, compõem o espectro da diversidade humana que foi reafirmado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Curso de Medicina em 2014 como tema transversal a ser contemplado no currículo, devendo envolver conhecimentos, vivências e reflexões sistemáticas na formação médica. Nesta mesma linha o aluno em formação deve refletir sobre outras dimensões da diversidade como a de gênero, cultural, socioeconômica, ambiental, enfim todas aquelas que singularizam pessoas e grupos sociais.

O curso de Medicina de Campo Grande comemorou no último ano seu quinquênio, haja vista sua criação e implantação, tendo ao longo de sua história formado mais de 2.000 médicos que atuam na região Centro-Oeste e outras do país. Consagrado pela sua relevância no Estado por contribuir na formação de profissionais de saúde, bem como na atenção à saúde da população sul mato-grossense, tais abordagens transversais expressam um desafio, pois ainda possuem pouca visibilidade no processo formativo médico.

Portanto, a disciplina “Saúde e Equidade” também contou com atividades práticas no âmbito dos serviços de saúde no SUS local. Os alunos acompanharam a equipe do Consultório na Rua da Secretaria Municipal de Saúde Pública de Campo Grande (SESAU) e o atendimento à população trans no Ambulatório Transexualizador do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP/UFMS). Tais atividades enriqueceram sobremaneira o aprendizado, proporcionando um processo de reflexão e ressignificação dos acadêmicos, especialmente, em relação ao trabalho da saúde voltado à população em situação de rua. Alguns relatos apreendidos dessa experiência:

 “Essa experiência me fez pensar ‘tanta gente tem tanto e tem gente que não tem nada”.

 “Os profissionais da equipe são interventores de uma população invisível, são mediadoras para o cuidado, que respeitam a autonomia”.

“Tenho certeza que serei um médico diferente depois dessa experiência”.

 

Alunos visitaram moradores de rua, na Ponte Norte-Sul

Vale lembrar que a equipe do Consultório na Rua (CR) de Campo Grande não possui profissional médico, sendo o interesse para essa área um grande desafio dessa política. Durante a participação da coordenadora da equipe do CR, Maria Beatriz Almeidinha Maia, em uma das aulas teóricas da disciplina, ela salientou que a presença de um médico aumentaria muito a resolubilidade do trabalho do Consultório na Rua, considerando a realização de vários procedimentos.

A disciplina também contou com a participação de outros profissionais de instituições ligadas a temática,  como da servidora do Centro de Homofobia,  vinculado à Secretaria Especial de Cidadania do MS – Neuza Araújo da Silva Lima, Dr. Ricardo dos Santos Gomes – Ginecologista e responsável técnico pelo Ambulatório do Processo Transexualizador – HUMAP/UFMS, Maria Beatriz Almeidinha Maia, da Secretaria Municipal de Saúde/Consultório na Rua e da área de direitos humanos, o advogado, professor e Mestrando em Direitos Humanos da FADIR/UFMS João Matheus Franco Giacomini.

 “O curso de graduação da Faculdade de Medicina da UFMS orientado pelas DCNs (2014) tem buscado inserção no currículo atual de temáticas que considerem a diversidade humana, no sentido de refletir sobre o acesso universal e a equidade em saúde como direito”, contextualiza a Profa. Dra. Elizete. “A formação de um profissional médico que desenvolva competências nas áreas de atenção, gestão e educação deve se comprometer com as necessidades postas socialmente, e para tanto as reflexões e a visibilidade de temáticas contemporâneas são necessárias para aproximação e enfrentamento dos problemas em um contexto real, permitindo lidar com a complexidade do processo saúde-doença, dos determinantes sociais de saúde, que converge para o olhar sistêmico sobre a formação profissional crítica, reflexiva e ética almejada”.

 

Para a professora Dra. Rosimeire, a expectativa é que a disciplina evidencie a necessidade do trabalho dessas temáticas na formação médica e assim abra as portas para a inserção desse conteúdo no novo currículo da Famed.  “O objetivo é que esse conteúdo deixe de ser uma abordagem optativa e se torne um eixo transversal do curso”, explica.

Da direita para esquerda (Aline, Profa. Elizete, Beatriz, João Pedro, João Gabriel, Gabriel, Profa. Rosimeire, Rodrigo e André) alunos que concluíram a disciplina

 

Convém salientar que o curso da FAMED passa por um processo de reformulação curricular e pedagógica, a fim de se adequar totalmente aos parâmetros estabelecidos pela DCN para a graduação de Medicina no nosso país. Como resultado dessa iniciativa, as professoras responsáveis elaboraram um projeto de pesquisa para analisar os produtos das atividades teóricas e práticas trabalhadas, tendo em vista contribuir com a discussão sobre a formação médica no âmbito da equidade em saúde.